08/07/2025
Um lugar de silêncio, contemplação e intensa oração. Assim vive o Carmelo de Nossa Senhora do Carmo, em Porto Alegre, o primeiro do Rio Grande do Sul, fundado em 1839 pela Madre Joaquina. Neste mês de julho, a clausura se abre em espírito para acolher fiéis na tradicional Novena de Nossa Senhora do Carmo, que prepara os corações para a grande solenidade no dia 16.
A primeira noite da novena foi celebrada na segunda-feira, 7 de julho, em clima de profunda devoção, com a participação de muitos fiéis. A Eucaristia foi presidida pelo pároco Pe. Charles Kermaunar e concelebrada pelos padres Adilson Kuntzler e Rodrigo Rubi.
Para as irmãs carmelitas, este é o momento mais especial do ano. “Julho é o mês de Nossa Senhora do Carmo, a nossa padroeira principal. É a festa mais importante da nossa ordem, toda dedicada à Virgem Maria”, explica a recém-eleita Madre Superiora, irmã Miriam do Espírito Santo. Ela conta que, com o tempo e a construção do mosteiro e da capela, foi possível instituir a novena como uma celebração solene. “Antigamente se fazia até procissão com a imagem de Nossa Senhora ao redor do Carmelo, com grande participação dos devotos”, conta.
Escapulário: sinal de amor e proteção
Durante os nove dias de oração que se segue, um símbolo se destaca: o Escapulário de Nossa Senhora do Carmo, expressão do cuidado maternal de Maria com seus filhos. “Ela entregou esse sinal como símbolo de proteção e amor especial aos carmelitas. E nós partilhamos esse tesouro com todos os fiéis que o carregam com devoção”, explica Madre Miriam. “O escapulário é como um escudo. Quem o traz participa espiritualmente da ordem carmelitana e recebe os frutos da nossa vida de oração.”
Essa fé, dizem as irmãs, já gerou pequenos milagres. Um deles aconteceu no ano passado, durante as enchentes que assolaram o estado. Diante da ameaça de as águas chegarem ao mosteiro, um devoto lançou um escapulário próximo ao ponto de alagamento. Por graça e misericórdia de Deus, as águas recuaram. “Foi nosso milagre”, testemunham.
A oração como missão no mundo de hoje
A vida carmelita é discreta, mas essencial. “O que oferecemos à Igreja é a nossa vida de oração”, afirma a Ir. Susana da Santíssima Trindade, destacando a necessidade urgente de fé no mundo atual. “Vivemos numa realidade onde muitos tentam caminhar sem Deus. E sem Deus, perdemos o verdadeiro sentido da vida.”
A vocação carmelita é também sustentáculo da Igreja. “Rezamos especialmente pelos sacerdotes. Eles são luz no mundo. E, como dizia Santa Teresa, nossa fundadora, queremos ser o apoio espiritual daqueles que nos conduzem aos sacramentos”, diz a irmã.
Bazar carmelitano: fé que se transforma em partilha
Durante a novena, as irmãs carmelitas também realizam o já tradicional Bazar Carmelita, uma expressão concreta da espiritualidade vivida no silêncio do mosteiro. No bazar, os visitantes encontram licores artesanais, artigos devocionais, sabão natural e outros produtos feitos pelas próprias irmãs. Tudo é preparado com dedicação e profunda intenção de oração.
“Tudo é feito com muito amor, oração e sacrifício. Cada item carrega a espiritualidade da nossa vida consagrada”, explica a Irmã Agnes de Jesus. “É uma forma de compartilhar nossa missão com as pessoas e, ao mesmo tempo, gerar o sustento necessário para manter o Carmelo.”
A renda obtida com as vendas contribui diretamente para a manutenção do mosteiro e das necessidades básicas da comunidade religiosa. Mais do que adquirir um produto, quem participa do bazar leva consigo um sinal de fé e partilha, fortalecendo a missão silenciosa, mas essencial, das irmãs carmelitas.
O povo que ajuda a cuidar do Carmelo
O Carmelo de Porto Alegre também conta com a colaboração de uma rede de fiéis voluntários, como o Grupo do Menino Jesus, formado por 16 pessoas que auxiliam as irmãs nas tarefas externas, especialmente durante a novena. Um dos integrantes é Luiz Fernando Kerstin de Souza, que há mais de 10 anos colabora com a comunidade. “É um serviço gratificante. Aqui, a gente entra e se apaixona. É um pedacinho do céu”, afirma emocionado.
Esperança que aponta para o Céu
Neste Ano Jubilar da Esperança, proclamado pela Igreja, a vivência da novena é também um apelo à transcendência. “Nós somos caminhantes”, lembra irmã Suzana. “A fé é acreditar nesse Deus que caminha conosco e que nos prepara para a Pátria definitiva, onde viveremos a plenitude da alegria, da paz e do amor.”
Com o coração em oração e os olhos voltados para Maria, as carmelitas seguem silenciosamente sustentando o mundo com a força invisível da fé. Que a devoção a Nossa Senhora do Carmo, tão viva entre os muros do Carmelo, possa se expandir e conduzir muitos corações ao céu.
Fotos: Márcia Kazumi / Pascom