Freis relatam situação dramática enfrentada em Canoas

08/05/2024

Freis relatam situação dramática enfrentada em Canoas

O município de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, foi duramente castigado pelas enchentes que afetam toda a região. Os bairros Rio Branco, Fátima, Harmonia, Mathias Velho, Mato Grande, estão embaixo d 'água. A paróquia Sagrado Coração de Jesus, na Mathias Velho, é atendida pelos freis capuchinhos. Os relatos abaixo foram enviados pelos freis Bruno Glaab e Juan Miguel Gutiérrez

 

Frei Bruno

 

“Domingo foi um dia trágico. Queira Deus que nunca mais tenhamos outro assim. Era 1h30min acordei e olhei pela janela. Vi a rua e o pátio da casa tomada de água. Desci para a cozinha e havia um palmo de água suja no primeiro piso. Pensei que era isso e voltei ao quarto (piso superior). Alguns minutos depois retornei e já eram dois palmos de água no primeiro primeiro piso). Opa! Está na hora de sair de casa. Fui até a sala de catequese (2° piso ao lado da igreja), onde já havia quase 30 pessoas. Fiquei lá até as 6h. Voltei para casa e tirar algumas coisas do meu quarto (piso superior). No primeiro piso a água já chegava à cintura. Nossa mesa e móveis flutuando na água suja. Dava vontade de chorar. Peguei roupas e alguns objetos de uso pessoal e retornei à sala de catequese. Nesta hora a água já batia bem acima da cintura. E agora eu, os confrades Juan e Cesar completamente molhados, junto com umas 40 pessoas esperando pelos bombeiros. Não estava muito frio, mas a roupa molhada no corpo dá uma sensação de mal estar.

 

Ficamos esperando os bombeiros das 07 às 16:30h. E a água subindo. Estávamos quase sem comida, sem água e o pior, sem banheiro. Às 14h eu comi uma fatia de pão. Foi só. A água continuava subindo e os bombeiros demorando. Diziam que os pedidos de ajuda eram muitos e que faltavam botes. Sem luz, nossos celulares estavam indo para o fim. Observando o crescer da água calculamos que, entre 19h e 20h, a água atingiria as salas de catequese. Imaginem só: umas 42 pessoas sem poder dormir e a água entrando na sala!

Pensei comigo: 42 pessoas: idosas, cadeirantes, crianças, gatos, cachorros. Como vamos sair? E o bairro todo com as casas na água até o telhado. O que será?. Eu rezava para que os bombeiros viessem antes de escurecer, pois se não, a coisa ficaria trágica. 

 

Enfim, às 16:30 chegaram diversos barcos e nos resgataram. Fui recebido pelos irmãos lassalistas, onde nós celebramos todos os sábados. Depois de um banho, a missa, uma saborosa sopa de capeletti, fui dormir. Agora penso: nossa casa, nossas comunidades. Tudo avariado. Mas nós da comunidade Sagrado e os Freis da S. José estamos todos salvos e provisoriamente acomodados em casas religiosas.”

 

Frei Juan Miguel


“Paz e Bem. Queridos irmãos. Foi um pesadelo muito difícil . É terrível ter que viver esta experiência. São momentos de tristezas, angústias e desespero. A Igreja, secretaria e casa Paroquial, tudo debaixo das águas. Perdemos tudo, menos a fé. A fé que nos dá a força para depois que baixarem as águas das enchentes, encher-se de coragem para recomeçar e reconstruir. Neste momento de dor, o que nos consola é a  caridade,  a solidariedade e preces dos irmãos  de caminhada.  Muitas pessoas morreram,  muitas pessoas foram resgatadas. Muitas pessoas estão em abrigos muito seguros e outras pessoas não foram resgatadas. É uma tragédia muito grande, nunca imaginei que passaria por uma experiência tão forte. Parece um filme de terror, mas é a  realidade que estamos vivendo. Sejamos peregrinos  da fé, esperança e caridade.”

 

Frei Luís Carlos Susin

 

“Os nossos freis resgatados de Canoas, onde temos os jovens estudantes de teologia, que estão distribuídos entre nós de Porto Alegre. Os relatos são dramáticos: os frei ouviam gritos por socorro no meio da noite mas não viam e nem podiam se mover com a água já chegando ao segundo piso. É uma região com muita casa sem segundo piso. Mesmo assim eles conseguiram encher as salas de catequese que estão acima dos salões com pé direito alto. Só foram resgatados quando a água começava a chegar naquela altura. Tudo muito dramático: subir cadeirantes, entrar no barco com cachorros que ficavam raivosos, até pitbull. Os freis foram os últimos a deixar o lugar, depois de embarcar os demais. Parece filme de Titanic. Chegaram com a roupa do corpo, alguns trouxeram celular. Mas tudo o mais - computadores, carros, instrumentos de música, cálices, livro tombo, dinheiro das paróquias... tudo zerado! Uns falam muito, outros estão muito quietos. A cidade está em um surto coletivo, com generosidade heroica de um lado e mesquinhes e egoísmo ou agressividade de outro. E uns buscando culpados, outros buscando dividendos econômicos e políticos... tudo fora da curva. Eu tinha lido que em eventos extremos - e o exemplo era a Segunda Guerra Mundial - não se sabe como vamos reagir, pois as emoções mais arcaicas se põem acima da razão. E um estudante disse há pouco: morrer não deve ser muito ruim, mas ruim é ver que a morte está se aproximando junto com a água que vem subindo."

 

Locais de ajuda em Canoas 

 

Paróquia São Luís Gonzaga

 

Paróquia Nossa Senhora do Rosário

 

Paróquia Nossa Senhora das Graças

 

Santuário São Cristóvão

 

Paróquia Santa Luzia

 

Colégio Notre Dame

 

Ulbra

 

Texto em atualização



Autor:
Ascom

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