Amor Pedagógico

23/05/2023

Essa bela expressão apresentada pelo reconhecido educador Professor Gabriel Perissé veio ao encontro de interrogações levantadas em grupos diretivos, nos últimos dias. Constata-se que a escola tem sido fórum de resolução de questões que ultrapassam em muito a sua tarefa principal, que é educar. Gestores e educadores têm ocupado boa parte do seu tempo em atender demandas que, objetivamente, não estão vinculadas à sua missão. O que tem levado a sociedade a remeter à escola tantos problemas e conflitos?

 

Observa-se, sem nenhum exagero, que boa parte dos agentes escolares demandam horas a fio em diálogos com pais e profissionais externos à escola em busca de soluções para questões vivenciadas por estudantes e famílias, muitas vezes sem êxito. Já foi sugerido, inclusive, que se coloquem de modo visível a todos painéis indicando qual a missão do estabelecimento, com a intenção de frear certos abusos de quem considera tudo responsabilidade da escola. Isso pode ajudar, mas não será efetivo enquanto toda a sociedade não estiver disposta a refletir sobre o que compete aos diferentes atores sociais, especialmente no que diz respeito à civilização que estamos formando.

 

Com certeza, os educadores têm participação no desenvolvimento humano dos estudantes e, em última análise, são também co-responsáveis pela sociedade que temos aí, com seus aspectos positivos e com suas misérias. A filosofia no Ocidente proclama há mais de dois mil anos o amor pelo saber, que não se refere apenas às dimensões cognitivas, mas àquilo que ajuda a pessoa a crescer e desenvolver-se como indivíduo e cidadão. Montesquieu afirmava que é melhor uma cabeça bem feita a uma cabeça cheia. Talvez nossa fragilidade esteja justamente aí: centramos tudo no conteúdo e não no desenvolvimento integral da pessoa. Alfabetizamos a mente, mas descuramos do coração e das mãos.

 

Amor Pedagógico – conceito que precisamos aprofundar – remete-nos à urgente necessidade de dialogar com as Comunidades Educativas sobre o que é específico e inerente à nossa profissão. De igual modo, faz-se importante um diálogo sincero com alguns equivocados em sua ilusão de responsabilizar a escola por tudo o que acontece no mundo atual, bem como se faz urgente debruçar-se sobre os processos pedagógicos, constituindo grupos docentes para discussão, partilha e aprofundamento. Proponho menos palestras com alguns paladinos da educação que não  a conhecem, porque jamais entraram numa sala de aula para lecionar, e mais espaços para os professores conversarem e compartilharem a missão. A primeira, por experiência, já vimos que não surtiu efeito. Hora de passarmos a novas tentativas, com os pés no chão e o coração na missão.



Autor:
Pe. Rogério Ferraz de Andrade

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