ARTESANIA DA PAZ

31/01/2024

 

 

“[...] os processos efetivos de uma paz duradoura são, antes de tudo, transformações artesanais realizadas pelos povos, onde cada pessoa pode ser um fermento eficaz com o seu estilo de vida diário.” (FT, 231)

 

Prezados (as) Educadores (as),

 

Educar consiste em desenvolver as capacidades humanas individuais, a fim de bem-viver em sociedade. O ser humano não nasce sociável, torna-se social. Viver em comunidade é expressão da evolução de uma civilização, edificada em valores que se expressam na vida ética.  Viver eticamente leva-nos a respeitar a liberdade, o direito à existência de todos e a procurar caminhos de consenso, quando há divergências.

 

Os espaços educativos, desde sempre, revelaram-se como ambientes propícios ao diálogo, ao crescimento dos indivíduos e à construção de pontes que valorizem o que há de comum entre os sujeitos. O foco está na aproximação e não no que nos divide.

 

Em 2024 somos convidados a pensar e articular espaços de encontro, em que se coloque a pessoa no centro, para além e acima de qualquer tipo de diferença, quer seja social, política ou religiosa. Como educadores, a ênfase pedagógica encontra-se no Cuidado da Vida e na valorização do Ser humano, somos também convidados a ampliar os horizontes educacionais, assumindo metodologias integradoras que invertam paradigmas que não têm contribuído com nossa visão educadora. Assim seremos mais fieis aos valores do evangelho e promoveremos uma educação verdadeiramente humanista.

 

Edgar Morin convida-nos : “É hora de mudarmos de via.” Quais passos podemos dar, como educação católica, a fim de promover uma cultura de construção da paz?

 

Proponho 3 imperativos a serem assumidos por todos os que caminham conosco, a fim de lançarmos as bases para novas práticas baseadas num conhecimento ativo, dinâmico e transformador. É fundamental que passemos:

 

·      Do imperativo das Individualidades ao Bem Comum

 

A Campanha da Fraternidade observa a ênfase que se dá ao individualismo, para o qual somente tem importância os interesses pessoais, em detrimento da comunidade e do bem comum. O desafio dos educadores encontra-se em auxiliar os estudantes a perceberem que o todo é maior do que as partes e que cada um com suas ações interfere nos resultados obtidos por todos. “Tudo está interligado”, conforme preconiza o Papa Francisco. Desenvolver metodologias educativas capazes de agregar os indivíduos em torno de projetos comuns que beneficiem a todos pode ser um caminho (embora lento) para a moldar e suscitar a paz numa sociedade tão dividida.

 

·      Da indiferença ao cuidado

 

“A Globalização nos tornou vizinhos, mas não nos fez irmãos”. Essas são palavras do Papa Bento XVI, descortinando um dado da realidade que experimentamos todos os dias: vivemos juntos, mas não nos conhecemos e, muitas vezes, não nos preocupamos uns com os outros. Apenas estamos próximos, mas nossas mentes e corações não se integram. Somos tentados a pensar que cada um deve resolver os seus próprios problemas. A dor do outro ou sua alegria não são de minha conta, por isso, cada um viva ‘na sua’, sem interferir no andamento do outro. Um bom exercício para conhecer e cuidar uns dos outros seria abrir um canal de comunicação no início de cada período letivo, permitindo aos estudantes expressarem como estão se sentindo, quais acontecimentos têm marcado suas vidas e quais expectativas estão no horizonte de suas buscas para o presente e o futuro.

 

·      Do fechamento ao Diálogo

 

Como seria bom se, enquanto descobrimos novos planetas longínquos, também descobríssemos as necessidades do irmão e da irmã que orbitam ao nosso redor”(Papa Francisco). Já fomos chamados de ‘Sociedade do Cansaço’, pois estamos todos exaustos com tantas dimensões da existência a dar conta. A impressão que se tem é que na mesma proporção do aprimoramento da técnica ocorre o fechamento, também conhecido como ensimesmamento, levando uns ao medo dos outros. Quais práticas pedagógicas seriam relevantes desenvolver, a fim de promovermos o diálogo não-violento, entre todos os membros da comunidade educativa? Quais espaços poderíamos proporcionar aos pais, aos educadores e aos estudantes a fim de criar a cultura do diálogo em nossas instituições?

 

“Vós sois todos Irmãos e Irmãs” (Mt 23,8).

 

Ao darmos os primeiros passos como Comunidades Educativas, em 2024, procuremos descobrir sonhos e projetos comuns entre os que se dedicam a fazer acontecer o Pacto Educativo Global, entre os que trabalham conosco  e com a comunidade local em que estamos inseridos. Esforcemo-nos para que nossos ambientes se tornem ainda mais acolhedores e promotores de harmonia, respeito e cuidado pela vida e, acima de tudo, trabalhemos pela fraternidade e amizade entre todos. Não nos esqueçamos que “A estatura espiritual de uma vida humana é medida pelo amor.” Empenhemo-nos, então, para que a nossa educação esteja pautada no amor, dom maior, mais importante, sem o qual nada mais vale a pena.

 

Um ótimo ano letivo!

Prof. Dr. Rogério Ferraz de Andrade

Coordenador da Pastoral da Educação e Cultura-CNBB Sul 3.



Autor:
Pe. Rogério Ferraz de Andrade

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