Árvores de Paz

14/06/2022

É preciso pensar caminhos que ajudem a resolver, urgentemente, a tendência agressiva e violenta que tem permeado as relações entre as pessoas. À naturalização do desrespeito mútuo e a sede de destruição dos que pensam diferente faz-se necessário interpor a possibilidade do perdão e da acolhida ao outro.

 

As grandes crises humanitárias e os conflitos, que terminam por destruir de modo implacável os semelhantes, quase sempre têm início numa autoconsideração desencadeada por um ego inflado, que tende a expandir-se entre pessoas que perdem a humanidade como ponto de referência e adotam, em seu lugar, parâmetros de comparação e comportamento viciados e inconsequentes.

 

Felizmente, há referências positivas que ajudam a mapear possibilidades de mudança de comportamento centradas no perdão e na reconciliação. Em 1994, houve um  genocídio de cerca de 800 mil pessoas em Ruanda, devido ao conflito étnico entre os “hutus” e os “tutsi”, grupos hegemônicos, sendo que os primeiros acusavam os outros de terem sido responsáveis pela morte do presidente, depois que uma bomba explodiu o avião em que o mesmo se encontrava.  Milhares de pessoas foram mortas de modo brutal, enquanto outras muitas precisaram se exilar, fugir e encontrar abrigo que garantisse a sobrevivência em meio ao massacre.

 

As decorrências dessa tragédia não podem ser calculadas em âmbito psicológico, material e cultural. Filhos vendo os pais serem mortos, mulheres sendo violentadas, humilhadas e finalmente exterminadas são marcas que levarão muitas gerações até serem completamente esquecidas. Que fazer diante disso? Perpetuar o sentimento de vingança, cuja espiral de ódio e perseguição não termina nunca? Pessoas que sentiram na pele a experiência desumana de uma guerra sem sentido, ainda que carregando dolorosas memórias e marcas em seu corpo, optaram por outro caminho. Por mais difícil que seja, especialmente para quem viu dizimados os seus entes queridos, o único caminho viável para a paz consiste em olhar-se nos olhos, numa comunicação assertiva que desemboque no exercício do perdão por quem foi ferido e do arrependimento de quem feriu.

 

Árvores de Paz é um filme que retrata toda essa situação dramática, através de 4 mulheres que ficaram escondidas por mais de 80 dias, num espaço insalubre, vivendo as angústias, a insegurança e as dores do corpo e da alma que vivem os que estão sob grave ameaça de morte. Elas venceram, foram resgatadas, mas não sem aprender algumas lições tão profundas que fizeram com que criassem um movimento de reconciliação em Ruanda, transformando-se em modelo e inspiração para os muitos e desafiadores conflitos étnicos e sociais que vive boa parte da humanidade.

 

O fatalismo não é o caminho! É possível fazer algo para modificar as relações destrutivas e intolerantes. Nossa capacidade reflexiva tem de ser usada para algo maior do que simplesmente repetir padrões empobrecidos de humanidade. Quem dera cada um de nós pudéssemos tornar-nos uma árvore frondosa, servindo e amparando quem está mergulhado na dor, indicando caminhos de cura, que passam pelo perdão, remédio fundamental e imprescindível para quem sonha com um mundo de paz! Isso é possível!



Autor:
Padre Rogério Ferraz de Andrade

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