O desafio de mudar

24/11/2020

O assassinato de um cidadão, junto a um centro comercial, em Porto Alegre, no final da tarde do dia 18 de novembro de 2020, é mais um caso de nulificação absoluta de pessoas no Brasil, que produz indignação, enchendo por algum tempo noticiários, tendendo a, em pouco tempo, cair no esquecimento.

A banalização da vida, expressa pelo recrudescimento da violência, aponta para a degradação exacerbada da condição humana e a consequente deterioração dos valores fundamentais na organização da sociedade.

Tal cidadão, como também uma multidão de tantos outros pertencentes a distintos grupos da sociedade, faleceu devido ao ensandecimento de alguns e a indiferença de muitos. Ele, provavelmente, faleceu asfixiado. Foi uma tragédia!

O fato aponta para os sinais de morte presentes na sociedade, teimosamente não reconhecidos; expressão do espírito moribundo da coletividade, marcado por relativismos, violência e descaso. Em distintos estratos da sociedade se colhem sinais de discriminação por causa da cor da pele, da condição sexual, da pobreza e da miséria. Isso se expressa nas piadas populares, programas de humor, conversas de botequim, olhares maliciosos e silêncios expressivos.

A crueldade da cena aponta para a falta de humanidade, respeito, bom senso, ética, sentido do “nós”, educação... Ela é constatação eloquente de uma sociedade adoecida e desumana, que um vírus ajudou a expor.

Que caminhos assumir para fazer frente a tal situação da sociedade? A resposta pode assumir diferentes conotações. A tradição judaica aponta uma. Narra o sábio: “Quando eu era jovem, queria mudar o mundo. Tentei, mas o mundo não mudou. Tentei mudar a minha cidade, mas a cidade não mudou. Tentei mudar a minha família, mas a minha família não mudou. Então, eu soube: primeiro, eu deveria mudar a mim mesmo” (I. Salanter).



Autor:
Artigo escrito por Dom Jaime Spengler para o Jornal Zero Hora.

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