Arquidiocese pelo mundo: uma conversa com o Padre Talis Pagot

09/02/2022

Arquidiocese pelo mundo: uma conversa com o Padre Talis Pagot

A Arquidiocese de Porto Alegre inicia uma série de reportagens sobre os sacerdotes que estão fora do território estudando ou desenvolvendo trabalhos em outras missões. A primeira entrevista é com o padre Tális Pagot, 42 anos, que embarcou para Roma no ano de 2017. Desde então ele já concluiu o Mestrado e está na etapa final do Doutorado.  Ordenado no ano de 2013, o sacerdote foi vigário na paróquia Imaculado Coração de Maria, em Esteio, e pároco por três anos na paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Sapucaia do Sul. Confira a entrevista.

 

Atualize-nos sobre a sua vida em Roma. Qual etapa dos estudos o senhor se encontra atualmente? Previsão de conclusão? Retorno para o Brasil há uma estimativa de data?

 

Padre Talis - Desde que cheguei a Roma, moro no Pontifício Colégio Pio Brasileiro, uma residência para padres brasileiros que estudam em Roma e é administrada pela CNBB. Todo o padre estudante que chega ao colégio passa por um período de adaptação e aprendizado do idioma. As aulas nas universidades romanas iniciam no mês de outubro, por isso, no mês de setembro passamos por um curso intensivo de italiano e no mês seguinte iniciam as aulas. O aprendizado do idioma é relativamente fácil por se tratar de uma língua neolatina como o português e o espanhol, por exemplo. Cheguei a Roma no final agosto de 2017, quando iniciei os estudos em teologia moral na Pontifícia Universidade Gregoriana. Foram dois anos de mestrado e me encontro agora na metade do terceiro ano do doutorado. Nesses quase cinco anos desenvolvi estudos com ênfase em moral fundamental com o tema da formação da consciência e em moral sexual com o tema da educação sexual. Em relação ao doutorado, o qual desenvolvo o segundo tema mencionado, a previsão de conclusão é para a metade deste ano (fim do ano letivo 2021-2022), porém, ainda não existe uma data certa para que isso aconteça devido aos trâmites burocráticos que envolvem a defesa de tese, a correção e a publicação. Com isso, também não tem uma data certa para o meu retorno ao Brasil, mas penso que será na metade do presente ano.

 

Como é o convívio com os padres e leigos de outras nacionalidades?

 

Padre Talis - Onde moramos temos o prejuízo de falarmos apenas o português, mesmo assim, com o dia a dia das aulas e as oportunidades que temos de ajudar em algumas paróquias da Itália, em pouco tempo a língua deixa de ser um problema. Normalmente muitos párocos italianos pedem ajuda aos padres do Colégio Pio Brasileiro nos períodos de Natal, Páscoa e férias, o que permite uma boa integração com as comunidades de fé e com as diversas culturas que se encontram no território italiano.

 

O senhor teve a oportunidade de visitar outros países europeus neste período? Quais?

 

Padre Talis -  A vida de estudante em Roma é uma experiência que transcende a vida acadêmica. Na universidade onde estudo se encontra reunidos estudantes de aproximadamente 120 nacionalidades diferentes, contemplando todos os continentes (religiosos e religiosas, sacerdotes e leigos). Isso significa uma experiência multicultural e, sobretudo, um intercâmbio de experiência eclesial difícil encontrar em outro lugar. Sim, são diversas culturas, visto que em cada região, e às vezes em cada cidade dentro de uma região, se fala um dialeto diferente, apesar de quase todos falarem o italiano "oficial" (ou mesmo uma língua diferente como é o caso da Sardegna), se faz uma experiência gastronômica diferente e se convive com um jeito diferente em termos de expressão popular. Eu tive a oportunidade de fazer essa experiência pastoral em regiões como Campania e Lazio, mais para o sul do país, Toscana e Piemonte na parte norte da Itália e no Griogione italiano na Suiça. Cada lugar desses se pode dizer que é um mundo diferente.

 

O senhor teve a oportunidade de estar com o Papa? Como foi a experiência?

Padre Talis -  Estar em Roma significa também estar próximo ao Papa e viver essa experiência filial com a Igreja de um modo muito especial. Em mais de uma oportunidade pudemos estar na presença do Santo Padre. A mais significativa foi no final de 2017, quando os estudantes do Colégio Pio Brasileiro tiveram uma audiência particular com ele. Foi um momento de oração, de conversa paterna dele conosco e de uma saudação particular a cada um.

 

O que o senhor gosta de fazer nos momentos de lazer? 

Padre Talis -  O período que passamos aqui é também um tempo primoroso para fazer amizades. Nesse tempo fiz muitos amigos no colégio, na universidade e nas paróquias por onde passei. Como atividade do colégio e em passeios com amigos, visitamos muitos lugares de grande importância para a fé e para a humanidade em geral, como Assis e Florença, por exemplo. Evidentemente que a experiência de conhecer a cada instante um lugar diferente de Roma (talvez precisássemos de umas quatro vidas para conhecer cada canto dessa cidade e de sua história, mais ainda se quisermos conhecer cada Igreja da cidade eterna) é uma das mais incríveis.  A vida aqui oferece muitas coisas para fazer nos momentos de folga. Eu particularmente, me concentro em sair com os amigos para fazer experiências gastronômicas do mundo italiano (muita pizza e muita massa). No mais gosto de fazer esportes como correr, andar de bicicleta e fazer hiking em montanha. Um momento inesquecível foi participar da maratona de Roma com a chegada ao Coliseu, num percurso que compreendia todo o centro histórico e os principais pontos turísticos da cidade.

 

Bom, muito além do conhecimento intelectual, chegando ao final do percurso de estudos, posso dizer que esse período aqui foi de um grande crescimento espiritual, cultural e humano. Não tem como voltar igual de como cheguei. Um dos maiores crescimentos pessoais foi certamente em relação à sensibilidade eclesial. A Igreja é um mundo, em toda a grandeza e complexidade que porta essa palavra. Precisamos olhar muito além daquilo que acontece em nossa vivência pessoal de fé, em nossa paróquia e em nossa diocese, experimentando algo que é próprio do ser humano que é a transcendência, sair de nós mesmos e encontrarmos um sentido muito maior para o nosso viver. Que o Senhor abençoe nos abençoe sempre e nos ajude a encontrar esse sentido a partir da Pessoa de Jesus, o Cristo.

 

 



Autor:
Marcos Koboldt

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