Cônego Melo celebra no mês de março os 70 anos de sua ordenação sacerdotal

29/02/2024

Cônego Melo celebra no mês de março os 70 anos de sua ordenação sacerdotal

No próximo dia 13 de março, o Cônego Luís Vunibaldo Melo da Silveira celebra os seus 70 anos de ordenação sacerdotal. Para marcar a data uma missa será celebrada no Seminário Menor São José, em Gravataí, às 10h, seguido de um almoço às 11h30. O sacerdote está com 96 anos, reside no Lar Sacerdotal, em Gravataí, sendo o decano entre os padres da Arquidiocese de Porto Alegre. Nascido no interior de Encruzilhada do Sul, no dia 22 de dezembro de 1927, padre Melo foi ordenado no dia 13 de março de 1954, na Basílica São João do Latrão, que é a catedral do Papa, em Roma.

 

Família

 

Sétimo filho do casal Anunciato Silveira e Otildes Maria Peixoto da Silveira, padre Melo cresceu no interior de Encruzilhada do Sul. “Nossa família era pobre, mas nunca faltou nada. Melhorou nossa situação quando a mãe foi nomeada professora. Crescemos em um ambiente familiar muito tranquilo”, relembra o sacerdote. 

 

Sobre a vivência religiosa nos primeiros anos de vida, uma realidade muito diferente da atual. “Rezávamos o terço diariamente, com a presença de toda a família, sem exceção. Missa? Uma, duas ou três por ano, quando o padre passava em visita pela extensa paróquia de mais de 5 mil quilômetros quadrados. Não havia capela nas redondezas. A nossa casa era o centro religioso. Ali se faziam os casamentos, batizados e a Missa. O padre ficava duas ou três noites hospedado conosco”, conta.

 

Nestas visitas dos padres a sua família, a vocação ao sacerdócio foi crescendo. “Geralmente era o coadjutor a fazer as visitas, portanto, padres jovens, bem dispostos. Nada contra os idosos é claro. Lembro o padre Afonso Wiest, que ficou dois anos na paróquia e se tornou um amigo da família. Eu o admirava, seu jeito, sua simplicidade, e pensava. ‘Quero ser igual a ele’. Assim, nasceu minha vocação. Manifestei a minha família, que apoiou e sempre procurou me incentivar”, frisa Cônego Melo. 

 

Seminário de Gravataí 

 

O sacerdote orgulha-se de ter sido  o primeiro seminarista de Encruzilhada do Sul, apesar da paróquia ter sido fundada em 1799. “De minha parte nunca tinha visto um seminarista na vida. “Como serão eles? Santos?”, recorda-se com bom humor. A partida para o Seminário de Gravataí ocorreu no final do mês de fevereiro de 1940. “A despedida foi muito chorosa. Era a primeira vez que saía de casa para passar longo tempo fora. Meu pai me levou de carroça até Encruzilhada do Sul, distante 38 quilômetros de onde morava. No dia seguinte pegamos um ônibus até Rio Pardo e depois o trem para Porto Alegre”, explica.

 

Cônego Melo destaca na sua chegada ao Seminário o enorme número de colegas. “Uns 190 seminaristas. A despedida do meu pai foi dolorosa, mas a acolhida que recebi me acalmou e comecei a me sentir em casa, na minha nova casa, o Seminário. Conforme Cônego Melo, o período de seis anos no Seminário Menor foi tranquilo, pois era um aluno dedicado e bem comportado. No mês de agosto de 1947, então com 19 anos, ele foi chamado pelo então arcebispo de Porto Alegre, cardeal Dom Vicente Scherer (1903-1996), que tinha um comunicado importante. O jovem seminarista havia sido escolhido para estudar em Roma. 

 

A viagem para a Itália no final dos anos 1940 era muito diferente do que é hoje. A primeira etapa consistiu em uma viagem de trem entre Porto Alegre e o Rio de Janeiro. Na capital fluminense, que naquela época era a capital do Brasil, ocorreu o embarque no navio que o levaria até a Itália em uma viagem de três dias e quatro noites com destino a Nápoles, local do desembarque, para mais uma viagem até Roma.

 

Cônego Melo residiu no Colégio Pio Brasileiro. Frequentou os cursos de filosofia e teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana. No período de sete anos desde a sua chegada na Itália não teve a oportunidade de rever os familiares. “Os estudos eram puxados. Muitos colegas acabaram desistindo. Em vista disso, o reitor, na época, determinou. Aos domingos, recreio obrigatório, das 10h às 10h30, e duas vezes por semana, caminhada obrigatória de 40 minutos.”

 

Ordenação 

 

O ano de 1954 marcava o último do curso de Teologia bem como da ordenação sacerdotal. O lema escolhido foi extraído da Carta aos Hebreus “Não se arrogue esta honra a não ser o chamado por Deus.” A ordenação aconteceu no dia 13 de março de 1954, na Basílica de São João do Latrão, a Catedral do Papa. O bispo ordenante foi Dom Aloísio Traglia. “Éramos 24 diáconos sendo ordenados. A cerimônia começou às 8h30 e terminou às 13h. Demorou tanto porque naquele dia ocorriam as têmporas da Quaresma, com nove leituras e nove salmos, tudo cantado pelos Cônegos Lateranenses e executado com muita gravidade, solenidade e piedade.” Entre os colegas de ordenação estavam o padre Anúncio Caldana e Dom Ivo Lorscheitter.

 

Depois de ser ordenado, o néo sacerdote ainda permaneceu em Roma por mais alguns meses até retornar ao Brasil. Em setembro de 1954, chegou em Porto Alegre e foi nomeado como coadjutor da paróquia São Pedro, que tinha como pároco Monsenhor Emílio Lottermann. Foram dois anos na comunidade até que o arcebispo decidiu pela sua nomeação como professor no Seminário de Viamão. “Disso eu queria escapar, mas devia muitos favores à Arquidiocese. Dei aulas de História da Filosofia, Teologia e História da Igreja”, relembra. 

 

No ano de 1985, o sacerdote foi nomeado pároco da paróquia São Vicente Mártir, na zona sul da capital. “Entreguei-me de corpo e alma às lides paroquiais e me sentia realizado. Os paroquianos eram muito bons. Mas no ano seguinte fui transferido para a paróquia Nossa Senhora Mont ́Serrat, onde fiquei quatro anos”, conta. Após um tempo como pároco, Cônego Melo solicitou para trabalhar como vigário paroquial. Ao invés disso, acabou nomeado como Chanceler da Cúria Metropolitana. 

 

Em 2004, por ocasião do Jubileu de Ouro – 50 anos de ordenação –, Cônego Melo voltou à Basílica de São João do Latrão. “Cheguei no Colégio Pio Brasileiro no dia 11 de março. Havia cerca de 115 padres, na sua maioria formadores, hospedados lá. Lembro que na hora do jantar fui apresentado e o motivo pelo qual estava ali. Percebi no rosto de todos a alegria, a acolhida. Fiquei 12 dias no Colégio. Celebrei a Missa no dia 13 de março na Basílica do Latrão e no dia seguinte na Basílica Santa Maria Maior. Ainda tive a chance de estar com o Papa São João Paulo II, em uma audiência pública, expressar a razão de estar em Roma e receber a sua bênção.”

 

 



Autor:
Marcos Koboldt

Tags: