10/07/2025
Na primeira celebração com o novo formulário litúrgico “Pela Proteção da Criação”, o Pontífice reforça a urgência de uma conversão ecológica concreta e profunda. Em sintonia com o Papa, a Arquidiocese de Porto Alegre e Dom Jaime Spengler reiteram seu compromisso com o cuidado da casa comum.
Nos jardins do Borgo Laudato Si’, em Castel Gandolfo, o Papa Leão XIV presidiu nesta quarta-feira (9) uma celebração histórica: a primeira Missa com o novo formulário litúrgico “Pela Proteção da Criação”. A liturgia, realizada ao ar livre, foi marcada por forte simbolismo e espiritualidade, reafirmando o compromisso da Igreja com a ecologia integral e com o cuidado da Terra como dom de Deus. “Somente um olhar contemplativo pode transformar nossa relação com a criação e nos tirar da crise ecológica”, afirmou o Pontífice, evocando a encíclica Laudato si’, de Papa Francisco, que completa dez anos em 2025. A celebração, desenvolvida em colaboração com diversos dicastérios do Vaticano e o Centro Laudato Si’, reforça o chamado à conversão ecológica — pessoal, comunitária e institucional.
Durante a homilia, Leão XIV foi direto ao ligar os desastres ambientais à responsabilidade humana: “Devemos rezar pela nossa conversão e também pela conversão de tantas pessoas, dentro e fora da Igreja, que ainda não reconhecem a urgência de cuidar da nossa casa comum.”
Porto Alegre em sintonia com Roma
Na Arquidiocese de Porto Alegre, as palavras do Papa encontram terreno fértil. Dom Jaime Cardeal Spengler, arcebispo metropolitano e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tem sido uma voz ativa diante da urgência climática, especialmente após as tragédias que atingiram o Rio Grande do Sul em maio de 2024 e novamente em junho deste ano.
Em artigo recente intitulado “Lágrimas da Casa Comum”, Dom Jaime recorda que “a natureza chora dores de parto”, numa alusão à epístola de São Paulo, e denuncia a lentidão e o descaso diante das catástrofes recorrentes. “A burocracia, a morosidade e, talvez, a falta de transparência em alguns setores colaboram para a morosidade diante do que necessita ser feito”, escreve o arcebispo, ressaltando que é preciso ir além das promessas e discursos.
Ele também reforça que a responsabilidade pelo cuidado da criação não é apenas institucional, mas pessoal: “Urge que cada um colabore para deixar o mundo um pouco melhor para as futuras gerações. A colaboração passa por atitudes como, por exemplo, seleção do lixo, cuidado para manter ruas, esgotos, arroios e bueiros limpos. Pode parecer pouco; no entanto, se cada um se empenhar por colaborar, todos certamente poderemos sonhar com dias melhores.”
Espiritualidade e compromisso
A liturgia celebrada pelo Papa Leão XIV destaca que a ecologia integral não se resume a ações técnicas, mas nasce da espiritualidade. “A Eucaristia sustenta o nosso trabalho e é o ponto culminante da matéria transfigurada por Deus”, afirmou o Papa, chamando os fiéis a enxergar na criação um reflexo do amor divino.
Esse olhar de fé está presente em muitas comunidades da Arquidiocese de Porto Alegre, onde orações, ações e reflexões em torno do cuidado com a Casa Comum fazem parte da vida pastoral. Dom Jaime resume esse chamado com lucidez: “Os discípulos do Homem de Nazaré têm a missão de cuidar, promover e proteger a Casa Comum. Ela é obra divina.”
A fé que transforma o mundo
Ao citar o Evangelho de Mateus — “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?” — o Papa Leão XIV destacou que Jesus não vem para dominar a criação, mas para reconciliá-la. Ele é “o Cristo que não destrói, mas faz ser, dando nova vida”.
Em Porto Alegre, esse chamado é levado a sério. A resposta à crise climática, como afirmou Dom Jaime, não se limita ao lamento: “Não basta se lamentar do acontecido ou do modo de proceder do poder público. Sonhar juntos é possível. E o tempo de agir é agora.”