Seminarista Douglas Szortyka Rodrigues: dez anos de saudade

20/01/2023

Seminarista Douglas Szortyka Rodrigues: dez anos de saudade

Os 22 anos de peregrinação do jovem seminarista Douglas Szortyka Rodrigues foram suficientes para tocar muitos corações. Neste domingo, dia 22 de janeiro, completa-se dez anos de sua páscoa definitiva. Missas na intenção da alma de Douglas serão celebradas na paróquia Nossa Senhora da Medianeira, em Eldorado do Sul, no sábado, às 19h, e na paróquia Coração de Jesus, em Porto Alegre, às 10h e 18h30. 

 

Para lembrar a trajetória do seminarista, a equipe da Arquidiocese de Porto Alegre conversou com o padre Jacques Szortyka Rodrigues, irmão mais velho de Douglas, e também com o Pe. Aluísio Cabreira, que reencontrou o seminarista quando trabalhava como enfermeiro na Santa Casa de Misericórdia, nos anos de 2012 e 2013. 

 

Infância e adolescência

 

Douglas Szortyka Rodrigues nasceu no dia 09 de setembro de 1990, em Porto Alegre. Padre Jacques recorda que, desde muito novo, seu irmão manifestava um grande amor pela Igreja. “Quando o Douglas nasceu eu já tinha quatorze anos de idade.  Então eu pude acompanhar bem todo o processo dele em todas as etapas. Ele terminou o Ensino Fundamental e já queria ingressar no Seminário de Gravataí. Meus pais e eu achávamos que era muito novo ainda. Contra a vontade dele fizemos de tudo para que não entrasse. Douglas acabou ingressando no Seminário São José após a conclusão do Ensino Médio”, disse.

 

Paixão pelo CLJ

 

Ao ingressar no propedêutico, Pe. Jacques recorda a paixão que o seu irmão manifestava pelo convívio no Seminário.  “Ele era apaixonado pela Igreja, pela formação. Nas pastorais pelas quais passou tinha muita facilidade para fazer amizades, tinha um carisma especial para trabalhar com os jovens, uma de suas grandes paixões era o CLJ (Curso de Liderança Juvenil). 

 

Diagnóstico

 

Padre Jacques Rodrigues estava em Roma, no ano de 2012, quando recebeu a visita do seu irmão. Douglas já tinha recebido o diagnóstico de câncer de pele e passado por algumas cirurgias antes da viagem. “Ele foi conhecer Roma e tivemos a chance de ir a Portugal visitar alguns familiares. No dia 27 de agosto [dia do meu aniversário],  já de volta ao Brasil, quando trabalhava como vigário na paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, recebi um telefonema de minha mãe. Ela chorava muito, não conseguindo falar, passou para o médico, que me informou do diagnóstico. O Douglas tinha um câncer no Peritônio. Não tinha cirurgia ou quimioterapia que pudesse amenizar a situação. O médico deu um prognóstico de seis meses. Ali se iniciou um processo muito doloroso de acompanhamento nos meses finais de vida dele”, recordou o sacerdote. 

 

Logo após o diagnóstico da doença, o seminarista Douglas precisou se afastar dos estudos no Seminário e voltou para a casa de seus pais, que na época residiam em Guaíba, na Região Metropolitana.  “Até o fim, dentro de suas limitações, o Douglas procurava fazer vídeos para palestrar do CLJ que ele tinha sido convidado para ir presencialmente, mas a doença o impediu que ele fosse. Apesar da dor, cansaço e limitação, ele procurava fazer bem feito, se esmerava. Tanto em casa como no hospital, recebeu muitas visitas, de padres, amigos, seminaristas, que o procuravam visitá-lo para manifestar um conforto saiam do encontro confortados tamanha a serenidade com a qual encarou a doença e a despedida deste mundo”, afirmou Pe. Jacques. 

 

Despedida e o exemplo

 

A Missa de corpo presente do seminarista Douglas aconteceu na Paróquia Nossa Senhora do Livramento, em Guaíba, no dia 23 de janeiro de 2013. Presidida pelo arcebispo Dom Dadeus Grings, concelebrada pelo então bispo auxiliar Dom Jaime Spengler e o arcebispo emérito Dom Altamiro Rossato (1925-2013). “Com certeza mais de 1 mil pessoas estiveram no velório e missa de corpo presente. Dezenas de padres, três bispos. Percebi ali que pelo seu testemunho, sem dúvida, o Douglas conquistou muitos corações para Nosso Senhor”, afirmou Pe. Jacques. O corpo do seminarista Douglas está sepultado no cemitério municipal de Guaíba. “Minha mãe com frequência encontra cartas de pessoas que rezaram pedindo sua intercessão e que alcançaram algum tipo de graça. Sempre que rezo lá vejo pessoas indo, flores em seu túmulo”, disse. 

 

Padre Jacques lembra que o seu irmão tinha um carinho muito grande pelo arcebispo emérito Dom Dadeus Grings. “Conversei com Dom Dadeus faz pouco e ele relembrou como o Douglas foi um exemplo para os jovens e os seminaristas. “Na época, muitos padres pediram que o Douglas fosse ordenado de maneira extraordinária, pois ele não tinha terminado a formação da Teologia. O grande sonho do Douglas era celebrar uma Missa. Dom Dadeus disse que não. Queria que ele fosse um modelo para os jovens, para os seminaristas. E assim o foi. Era bom estar com o Douglas, ouvi-lo, estar na companhia dele. Relembrar ele é emocionante, louvo e bendigo por sua peregrinação de 22 anos por este mundo. Peço que rezem por ele e ofereçam em seu favor muitas missas em sufrágio pela sua alma.”

 

Um reencontro na Santa Casa

 

Padre Aluísio conheceu o seminarista Douglas no ano de 2009. À época, ele era paroquiano na paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, em Cachoeirinha.  “Sempre o encontrava nos eventos da Arquidiocese. Ele era sempre muito cordial, alegre”, relembrou. 

 

Em 2012, o hoje vigário da paróquia Nossa Senhora dos Anjos era estudante de Enfermagem. “O meu estágio era realizado na Santa Casa, onde o Douglas fazia o seu tratamento. Passaram alguns meses, eu me formei e segui trabalhando. Na época já tinha o desejo de ingressar no seminário.  Naquele janeiro de 2013, o Douglas internou no andar que eu trabalhava. A saúde dele já estava bem avançada, com cuidados paliativos. Passava ali para ver como ele estava, pois já conhecia o Pe. Jacques e seus familiares. Lembro de muitos padres, bispos, seminaristas, que o visitavam”, destacou padre Aluísio, que ainda não tinha se decidido pelo ingresso no Seminário na época.

 

Testemunho de serenidade

 

O presbítero lembra um episódio quando uma ministra extraordinária da Sagrada Comunhão se dirigia ao quarto de Douglas para levar a Eucaristia. “O Douglas já não conseguia comungar nos últimos dias. Nada parava no estômago e ele iria vomitar a comunhão. Então a ministra abriu o corporal e repousava a hóstia em sua barriga. Aì num dia ele pediu para eu cantar uma música. O Douglas chorava. Aquilo me provocou uma enorme comoção. A fé dele em Jesus Cristo vivo naquela hóstia.”

 

Pouco menos de dois meses da morte de Douglas, o então enfermeiro Aluísio iniciou o seu processo de discernimento vocacional participando dos encontros Kairós. “No final daquele ano decidi entrar no Seminário. Sempre carrego comigo uma foto do Douglas, da lembrança da missa de sétimo dia. Sem dúvida foi um grande menino. Posso dizer que se hoje sou padre, o testemunho deste seminarista tem uma participação importante”, completou o atual vigário paroquial da paróquia Nossa Senhora dos Anjos.


 

 



Autor:
Marcos Koboldt

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