A carne humana: tráfico de pessoas!

29/07/2022

No dia 30 de julho celebramos a jornada internacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas. Esta data estabelecida pela ONU entrou no calendário mundial e da Igreja em 2014. Vivemos, portanto, uma semana de preparação, marcada por várias iniciativas e eventos para um envolvimento sempre maior na busca de amenizar e curar esta chaga da humanidade, que ainda persiste em nossos dias. A Igreja está comprometida com esta causa também.

 

O tráfico humano tem rostos, cor, classe social e lugar, em que o drama se torna um verdadeiro flagelo. Adolescentes e mulheres são as maiores vítimas. Há poucos dias, li que existe no mundo, uma lista de lugares mais perigosos para o tráfico de pessoas. O Mar Mediterrâneo aparece em primeiro lugar. Milhares de pessoas perderam a vida na travessia da África para a Europa. Há uma tamanha gama de crueldades, que até cemitérios “reservados” às vítimas das águas mediterrâneas foram criados.

 

Depois vem ainda a África, nos caminhos do deserto do Saara. Pessoas que partem da África subsaariana sucumbem pela fome, sede, pelo frio e calor do deserto. A fronteira entre México e Estados Unidos é o terceiro lugar mais perigoso e usado pelos que fazem das pessoas mercadorias para o lucro e um dinheiro manchado de sofrimento, dor e sangue. Estas são algumas das rotas de tráfico, mas há tantas ao redor do mundo, como a rota dos Balcãs ou do canal da Mancha. Mas, para não ficar longe, a nossa floresta Amazônica tornou-se também uma via escura do tráfico de pessoas. Várias portas fronteiriças também se prestam a isso.

 

Os que praticam este crime hediondo usam as pessoas como meras mercadorias para o trabalho escravo, inclusive em domicílios; para a exploração sexual e prostituição forçada; para o tráfico de órgãos. Acompanhamos há alguns meses as notícias dos traficantes infiltrados nas levas de refugiados da Ucrânia. Se tem algo que os traficantes não têm é escrúpulo. Inclusive é bom recordar que no mundo virtual aparecem novas formas, mais sutis, de tráfico de pessoas. Namoros virtuais, contratos para o mundo da fama, casamentos por sites de Internet, são muitas vezes usados como arapucas. Então a vida que deveria estar se encaminhando para o sucesso ou um amor encontrado, torna-se um verdadeiro calvário, deixando chagas psicológicas e de reinserção familiar difíceis de curar.

 

O que fazer diante desta ‘ferida da humanidade’? A Igreja assume esta realidade em nível mundial, regional e local. TalitaKum é uma organização de Irmãs religiosas cujo trabalho já resgatou mais e 40 mil mulheres das mãos do tráfico nos últimos dez anos. Na América Latina e Caribe, a rede Scalabriniana, missionários e missionarias, a rede Clamor, estão envolvidas na prevenção, acolhida e acompanhamento de pessoas traficadas, sobretudo, nos caminhos de migração. No Brasil, a Igreja, através da Comissão Episcopal para o enfrentamento ao tráfico de pessoas, da rede Um Grito pela Vida, entre tantas, são expressões do comprometimento de leigos, religiosas, padres e bispos, na árdua missão de enfrentamento ao tráfico humano.

 

É preciso falar e alertar. Um mutirão para a conscientização, para lembrar que é problema social de todos. Precisamos enfrentar. As notícias que de vez em quando vemos nos telejornais, em que a Polícia Federal prendeu tal grupo aqui e acolá, dizem apenas da ponta do iceberg da realidade do tráfico. Ele pode estar perto de nós. Ainda mais agora pela situação de pobreza e fome agravada nos últimos tempos. Nas situações vulneráveis é que o tráfico mais age.

 

Em Porto Alegre, na Estação Rodoviária, haverá um ato para chamar a atenção desta triste realidade. Este é um modo de, com pequenos gestos, somar-se a muitas pessoas e organizações para enfrentar o tráfico de pessoas. Também somos convidados e nos comprometer em construir políticas publicas que ajam na prevenção, no combate ao tráfico e na assistência para a reinserção social das vítimas deste crime.

 

Os caídos nas mãos dos traficantes são pessoas que pedem de nós uma atitude de bom samaritano. A Igreja se faz próxima e solidária para sarar os feridos à beira do caminho e tomar os cuidados necessários para reencontrarem sua dignidade humana. A fé se faz caminho e a caridade se faz atitude concreta ao “próximo” que caiu nas mãos dos salteadores. 

 

 

 

 

                                



Autor:
Dom Adilson Pedro Busin

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