A família e a arte de falar com sabedoria e ensinar com amor

10/03/2022

 

Para os cristãos católicos o tempo quaresmal é, sem dúvida, uma oportunidade para crescer no amor ao próximo, na vida de oração e também no autodomínio das vontades pessoais em vista de uma maior entrega à vontade de Deus. Verdadeiramente é tempo de penitencia e conversão. Esse tempo todo especial, marcado pelos exercícios quaresmais da caridade, oração e jejum são certamente enriquecidos com a possibilidade em refletir e aprofundar temas ligados à nossa realidade social e que são propostos pela Campanha da Fraternidade de cada ano. Campanha que neste ano tem como tema a educação e como lema: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr. 31,26).

E, se tratando de um tema e lema com essa relevância, sem dúvida, a família deve mergulhar nesta proposta, pois a educação para a vida e para os valores devem acontecer, sobretudo dentro de cada lar. Contudo, isso não tira e nem diminui o dever e a obrigação do Estado e da sociedade civil em zelar e favorecer que a educação seja da melhor qualidade possível em vista do desenvolvimento integral de cada pessoa.

Fundamental ter presente que, quando se deseja um futuro melhor tanto para a sociedade como para a Igreja, é necessário um olhar todo particular voltado para a família e sua missão no mundo em que vivemos. Diz o Papa Francisco em sua Encíclica Amoris Laetitia que “o bem da família é decisivo para o futuro do mundo e da Igreja” (AL. N. 31). Neste sentido o papel da família na educação é imprescindível e irrenunciável. Bem lembrou o Concilio Vaticano II em sua Declaração sobre a educação cristã, quando afirma: “Ao dar a vida aos filhos, os pais assumem a obrigação de educá-los. Devem ser reconhecidos como primeiros e principais educadores... devem criar um ambiente familiar de amor e piedade para com Deus e para com os outros, favorável à educação integral, pessoal e social dos filhos. A família é a primeira escola das virtudes sociais, de que tanta necessidade têm as sociedades” (GE, n.826).

Na verdade, a corresponsabilidade no empenho em vista de uma educação que contemple o ser humano em sua totalidade é de todos. O Papa Francisco, em 05 de outubro de 2021, no encontro para promover o Pacto Educativo Global, diz que “se queremos um mundo mais fraterno, devemos educar as novas gerações para ‘reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra onde cada um nasceu ou habita’ (Carta enc. Fratelli tutti, 1). Este princípio fundamental – ‘conhece-te a ti mesmo’ – orientou sempre a educação, mas é necessário não descurar outros princípios essenciais: ‘conhece o teu irmão’, a fim de educar para o acolhimento do outro [cf. Carta enc. Fratelli tutti; Documento sobre A fraternidade humana (Abu Dhabi, 04/II/2019)]; ‘conhece a criação’, a fim de educar para o cuidado da casa comum (cf. Carta enc. Laudato si'); e ‘conhece o Transcendente’, a fim de educar para o grande mistério da vida. Temos a peito uma formação integral que se resume no conhecer-se a si mesmo, ao próprio irmão, à criação e ao Transcendente. Não podemos esconder às novas gerações as verdades que dão sentido à vida.

Por fim, que mesmo buscando todo conhecimento humano e desenvolvendo as melhores técnicas possíveis na arte de educar, que exista sempre em cada um a abertura ao Espirito Santo de Deus que tem o poder em conceder a verdadeira sabedoria no jeito de falar e a verdadeira ciência na arte de ensinar. Somente sabendo escutar a voz do Espirito será possível se educar e saber escutar com a mente e o coração o outro. Sem a capacidade de escuta não é possível falar com sabedoria e muito menos ensinar com amor.



Autor:
Dom jaime Spengler

Tags: