Discernimento: dom do Espírito

19/05/2021

O tempo presente vivido sob a influência do coronavírus tem exigido a mudança de vários hábitos pessoais e coletivos. Ele tem sido um tempo de aprendizados, de recordação de elementos simples e fundamentais do convívio humano, mas também tem cooperado para expor a fragilidade humana.

A leitura destes sinais nos instiga a buscar um horizonte de novas possibilidades e oportunidades.

Para realizar o caminho em busca do novo que todos almejamos, a tradição cristã oferece uma indicação preciosa, caracterizada por aquilo que se cunhou denominar “obra do discernimento”.

Os antigos diziam que a melhor de todas as virtudes é o discernimento. “Discernir significa ‘ver claramente entre’, observar com muita atenção, escolher separando. O discernimento é uma operação, um processo de conhecimento, que se realiza através de uma observação vigilante e experimentação cuidadosa, a fim de nos orientar em nossas vidas, sempre marcada por limites e pelo não-conhecimento” (E. Bianchi). Exercitar-se nesta virtude oferece a possibilidade de ser atingido por inspiração e condições para a expansão em nós e entre nós do “novo”, do “diferente” que anelamos para o pós-pandemia.

Em momentos importantes da vida e da história, os cristãos invocam o Espírito Santo Criador, de quem o discernimento é dom. O Espírito é profundidade, comunhão e criatividade. Estes aspectos que O caracterizam, apontam para exigências do tempo presente que se apresentam aos diversos âmbitos do convívio humano.

As respostas que as crises atuais exigem, requerem discernimento para não se deixar conduzir por subjetivismos e autorreferencialidades. Daí a importância de conhecer-se a si mesmo, renunciar à própria vontade, reconhecer a própria missão e disposição para o diálogo, qual caminho de discernimento.

Por isso, celebrando a festa de Pentecostes, somos convidados a invocar a força do Espírito Santo Criador: “Suave origem do bem, (...) nossas almas ilumina”, para que possamos deixar o nosso mundo um pouco melhor para as futuras gerações.



Autor:
Por Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano e primeiro vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

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