O ENCONTRO DEFINITIVO COM DEUS

31/10/2022

O ser humano é uma criatura de Deus. E, como toda criatura, a existência humana tem um começo e um fim. Não somos eternos neste mundo. Tão certo quanto o fato de que um dia começamos a viver é o fato de que um dia morreremos. Nossa vida terrena vai ter um fim! Assim considerado, o fim da existência humana deveria ser visto como um fator natural.

           

Apesar de termos consciência desta realidade, o fato ou a possibilidade da morte de uma pessoa próxima de nós ou até mesmo de um estranho, faz com que vejamos a morte como algo que não deveria acontecer ou que é difícil de aceitar. Como nos lembra o Catecismo da Igreja Católica, “a morte põe termo a vida do homem, enquanto tempo aberto à aceitação ou a rejeição da graça divina, manifestada em Jesus Cristo”(1021). Depois da morte, não há mais nada que fazer. Diante de Deus somos aquilo que construímos ao longo da nossa existência terrestre. Nada mais podemos acrescentar ou tirar! A morte é o momento em que seremos colocados diante de Deus e, nesse encontro face a face, será exposta a verdade da nossa existência. É o julgamento de Deus sobre a nossa pessoa: “É diante de Cristo que é a verdade, que será definitivamente desvendada a verdade sobre a relação de cada homem com Deus” (CIC1039).

           

Esse encontro com Deus não é um momento a ser temido. O cristão não pode ter medo diante da morte e do juízo. Com efeito, não é qualquer juiz que nos julgará, mas é o próprio Cristo. E, como ele mesmo nos ensinou, seu juízo não é para a condenação, mas para a salvação até mesmo daqueles que, aos olhos humanos, estavam perdidos (Lc 19,10). Se nosso julgamento dependesse só d’Ele, a nossa salvação já seria certa. Mas o ser humano tem a possibilidade de dizer não ao amor de Deus e recusar a Sua Graça. Assim, que na realidade, se alguém se condena, não é pela vontade de Deus, que quer a todos salvar, mas pela recusa ao seu amor.

           

Sendo aceitação ou recusa da Graça de Deus nesta vida decisiva para nossa salvação ou nossa perdição, a preocupação não deve ser tanto com o julgamento futuro, mas com o modo como, na vida presente, vivemos o amor que Deus nos transmite: “Pois é agora, nesta vida, que nos é oferecida a escolha entre a vida e a morte, e só pelo caminho da conversão poderemos entrar no reino do qual somos excluídos pelo pecado grave. Convertendo-se a Cristo pela penitência e pela fé, o pecador passa da morte para a vida, como nos afirma o próprio Cristo: “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para vida” (Jo 5,24).

 

Na solene liturgia de Finados, a Igreja lembra que somos mortais e a glória é que nem palha consumida pelo tempo. Ficando nesse ângulo, a vida pode ser entendida como um absurdo. Na visão da fé, tudo muda. Com a morte acontece o verdadeiro nascimento do homem. Cada dia deve ser vivido como se fosse o único e último de nossa vida. Somos mortais que caminhamos para a imortalidade. A finitude faz parte de nossa natureza. Ao mesmo tempo, desejamos a plenitude e a eternidade junto com Deus, nosso Pai, e com nossos amados que já partiram. A fé que professamos na ressurreição nos leva a ser pessoas da vida, e não da morte. Pensar na morte, iluminada pelo mistério de Cristo, ajuda-nos olhar para a vida com novos olhos.



Autor:
Dom Bertilo João Morsch

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