REAVIVAR A COMPAIXÃO

13/07/2023

Nos dias atuais permeia uma onda de que aquele que não anda comigo, não faz parte da minha bolha, que desafia meu modo de pensar, que não se enquadra nas minhas presunções sobre o que é aceitável, que não se conforma a minha vontade, ou seja, aquele que, simplesmente, não sou eu, seja expulso da minha convivência, seja deixado para trás, que sofra.

 

Há um espírito de afastamento que compromete as decisões, planejamentos e também o convívio social e religioso.

 

Sem o mínimo de “esforço” e “boa vontade”, no cultivo pessoal, será difícil nos recompormos como “pessoa”, a imagem e semelhança de Deus. Cultivo pessoal é como um húmus espiritual que dá sentido a tudo o que sou e faço em plena e sã consciência sem influência ou modismos.

 

Somos influenciáveis diante de tantas situações e informações que recebemos com ou sem nossa permissão. Estas informações são tantas que, não temos tempo, discernimento e muito menos habilidade em fazer a triagem do que é do espírito bom ou mal.

 

De todo modo, “o ser humano bom, de bom tesouro do seu coração, tira o que é bom; e o mau do mau tesouro, tira o que é mau; pois a boca fala da abundância do coração” ( Lc 6,45).

 

Por conseguinte, para podermos comunicar e testemunhar a verdade no amor é preciso purificar o próprio coração. Só ouvindo e falando com o coração puro é que podemos ver além das aparências, superando o rumor confuso que, mesmo no campo da informação, não nos ajuda a fazer discernimento na complexidade do mundo em que vivemos. Este nosso tempo tão propenso à indiferença e à indignação, baseada por vezes até na desinformação, carece da verdade que brota das profundezas do coração.

 

Precisamos de novas habilidades para interagir e cuidarmo-nos inteiramente, sem desconfianças, mas encorajados por gentilezas e atitudes que nos façam crescer e amadurecer em novos processos que deem sentido a nossa vida.

 

Há uma parábola que gostaria de utilizar como exemplo que fala sobre o “bom samaritano”.  “Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu no meio de assaltantes que, após havê-lo despojado e espancado, foram-se, deixando-o semimorto”. “Certo samaritano em viagem, porém, chegou junto dele, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximou-se, cuidou de suas feridas, derramando óleo e vinho, depois colocou-o em seu próprio animal, conduzindo-o à hospedaria e dispensou-lhe cuidados.  No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo: ‘Cuida dele, e o que gastares a mais, em meu regresso te pagarei’.” ( Evangelho de Lucas  10,30-35).

 

Muitas situações em vida são assim, irmãos que atingem seu fim último que é prejudicar, tirar, cobiçar, julgando em benefício próprio, sem se preocupar com o próximo, não agindo com misericórdia.

 

Ao contrário, percebemos muitas situações em vida que irmãos, caminhando ou viajando pelo mundo a fora, são capazes de olhar, parar e perceber que o “meu próximo precisa de ajuda”.  Sem ter medo de ajudar, tem a capacidade de trazer em sua “própria montaria”, para junto de suas condições e possibilidades e encaminhar para os devidos cuidados; não é para qualquer um. Dar de seu tempo, de seus recursos humanos, financeiros e até espiritual (compaixão) exige da pessoa um coração com espírito bom, que enxergue a qualquer custo seja quem for; sem perguntar, somente tocar, cuidar das feridas e dar segurança junto aos cuidados sequentes, com garantias de não ter pressa para o devido restabelecimento do irmão chagado pelo imprevisível.

 

Quem é o meu próximo!?  Aquele que não fala, não tem meios e, muito menos condições de dar um passo adiante, pois tiraram suas forças e dignidade, tão necessárias para sua sobrevivência e sentido de vida. Restabelecido, pode contribuir para diluir o sofrimento, a dor e angústia, de tantos chagados que não são vistos ou até ignorados, diante das distrações midiáticas que interferem nas relações do cotidiano humano.

 

Para o ser humano, na verdade, antes de amar, deve ser amado e querido: de amor se morre, de ser amado se vive! Pois, Deus se aproxima para me cuidar e me amar; para que, também eu, curado do meu mal, possa amá-lo com todo o coração e aos irmãos como a mim mesmo.

 

A boa notícia a ser comunicada, anunciada é que o cuidado pelo Samaritano já está habilitado a percorrer o seu mesmo caminho.

 

Abençoada seja a Vida, cuidada por você!

 



Autor:
Dom Darley José Kummer

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